Não vi o armário novo chegar. Não comemorei o
59˚ aniversário da minha mãe. Não fui a festa de um ano da Rafa. Não pude
receber pessoalmente a notícia da gravidez da Paula. Não vi meu time subir para
a primeira divisão. 150 dias distantes
de um abraço familiar, do café da vó, das roupas passadas de casa, das
caronas do irmão, das músicas matinais para a irmã, das reuniões na casa da
Rose, do strogonoff da Neide, dos
sobrinhos queridos, do ônibus com as Carols, dos apelidos para a Robenilda.
Mas em compensação, 150 dias de aprendizado
diário, de amadurecimento constante, do novo batendo na porta, das decisões
frente a frente. Nesses 150 dias pude realizar o sonho da minha vida e ver de
perto que a Torre Eiffel existe, reluz imensa, imponente. Que a Irlanda é tão
verde quanto nos filmes. Que o inglês não é assim tão difícil quanto parecia.
Que viver sozinha não é estar sozinha. Que as coincidências da vida nos
acompanham.
Sair da zona de conforto e enfrentar o
desconhecido não é tarefa fácil. Mas é gostoso. Conhecer gente nova, com
histórias diferentes, realidades tão distantes e as vezes tão próximas. Saber
que existe no mundo pessoas que não se importam com o que você tem e sim com
quem você é. Saber que a catedral que está no seu caminho diário de ida e volta
tem anos de história e resistência. Tudo isso não tem preço. Ou tem, mas não é
mensurável em relação ao que se vive.
Saudade ainda é uma palavra constante nesses
150 dias. As vezes ela engole a gente, já dizia Chico Buarque. Mas o objetivo,
que ainda não foi concluído, ainda é o farol que brilha e que me conduz na
estrada. Virão muitos 150 dias. Virão ainda histórias, boas histórias para
contar. E essas também vão virar saudade.