segunda-feira, 30 de junho de 2014

Tragédia


Até que ponto uma história triste é capaz de nos empurrar pra frente? Em um ano de Irlanda já vi e ouvi muitas histórias. Algumas tristes, outras trágicas, e outras novela das 6h. A questão é que todo mundo tem um relato, um conto, uma narração e as vezes foi isso que a motivou estar aqui.

Digo da Irlanda porque é a minha casa no momento e aonde escuto os lamentos, mas muita gente apenas muda de casa, muda de corpo, muda de cabelo com o intuito de mudar de vida e levá-la de um jeito diferente.

Um pé na bunda, um chifre, uma demissão, uma morte, um espancamento são possíveis enredos para uma nova história. Alguns acontecimentos demoram anos, outros apenas uma noite. Escrevendo esse texto uma amiga conta de acaba de vir de um date mal sucedido. Conheceu o cara em algum site de relacionamento e o rapaz, nas fotos, tinha caracterísictas latinas. Alto, forte e moreno. Ela, loira, adora esse esteriótipo. Ao chegar no local se deparou com um indiano, baixo, do cabelo seboso que ainda foi um gentleman e ofereceu algumas bebidas. Sorry (leia  com sotaque indiano).

Isso é uma tragédia. Pode não parecer pra você que passou por algumas coisas mas pesadas na vida, mas para ela, que está em busca de um relacionamento sério e cansou da brincadeira de dar o número do telefone e esperar ansiosa pela ligação, é. A questão é: será que essa nova tragédia (não é a primeira) fará ela mudar de atitude ou de estratégia?

Longe de fazer julgamentos sobre o que ela fez, mas estava aqui apenas pensando até que ponto sofremos, ou qual o limite da história triste somos capaz de chegar? Eu aguentei muita coisa pra chegar até aqui pra entender que quem dá um basta nos enredos tristes sem fim, somos nós mesmos. Se o relacionamento está ruim, não é casando que melhora. Se o emprego está mal, não é com um aumento que ele se torna bom. Se a carreira não foi bem essa que você queria, não é com um trabalho meia boca que você vai ser feliz.


Tragédias são inevitáveis, mas sofrer eternamente é. Perder alguém próximo é o fundo do poço, mas só você pode pensar que ela está em um lugar melhor longe desse sofrimento chamado Terra. Terminar com o amor da sua vida depois de descobrir uma traição é desastroso, mas chorar por meses seguidos por essa pessoa que nem sequer pensou em você enquanto estava com outra ou outro, é opcional. Fazer com que a história triste tenha um final feliz, só depende de nós mesmos. E em alguns caso você é ainda capaz de encontrar as pessoas que te fizeram sofrer tanto e dizer: Obrigada! Eu estou quase fazendo isso.

Autora: Thaís Ribeiro

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Trintando em 3, 2, 1


Clichê ou não fazer 30 anos parece ser meio divisor de águas. Quando criança não imaginava chegar aos 30. Imaginava com 20, 25, morando sozinha, sendo uma jornalista reconhecida e feliz com meus amigos e um namorado. Mas 30 era muito. 30 era quase “como serei velha”. Pois é, eis que chego aos 30. Metade das coisas que eu imaginava estão acontecendo. Sou  feliz com meus amigos e moro com eles. Ainda não sou uma jornalista reconhecida (e também não sei se quero ser) e não tenho um namorado.

Mas a real  é que eu sou muito mais feliz completando 30 do que quando completei 20. Lógico, eram épocas, objetivos e países diferentes. Aos 20 eu me cobrava responsabilidade demais, maturidade demais, resultados demais. Foi bom para época. Estava na faculdade e era muito nerd. Levava meu relacionamento muito a sério. Não pensava jamais em morar sozinha, muito pelo contrário, queria comprar uma casa pra minha mãe. E tinha bons amigos, alguns que ainda permanecem, outros que foram demitidos ou me demitiram.

Hoje, consigo ver que a maturidade me trouxe para onde estou. Talvez eu tenha queimado algumas etapas. Não fiz uma tatuagem naquela época, não deixava minha mãe com os cabelos em pé por não saber do meu paradeiro, e nem ficava na dúvida do que ser quando crescer. Mas posso fazer muitas outras coisas hoje com lucidez. Mais do que naquele tempo.

Sofri algumas decepcões, tenho alguns (muitos) kilos a mais e cabelos de menos. Aprendi com os erros e nunca vou poder garantir os acertos. Mergulhei em uma nova língua que me causava pavor. Perdi a vergonha e o medo de falar o que eu pensava. Se penso em agradar alguém, que eu seja a primeira. Ganhei novas pessoas na vida que possívelmente me acompanharão até os 80. Conheci Paris. Descobri que não preciso de bens materiais nenhum pra ser feliz e que a minha alma é viajante.


O que eu tiro de tudo isso? Aprendi não fazer milhões de planos, deixar que cada dia seja um dia. Viver o hoje e olhar o futuro não como uma coisa concluída. Que a vida segue e não adianta tentar prever o que vai nos acontecer. Ter 30 e ser independente, autêntica e autônoma dos meus atos e consequências. 30 é um descoberta de um ser seguro e inseguro. É meter as caras com um pouco de receio, mas vencer o medo. Me prefiro hoje e se fosse uma criança nunca ia querer ter 18, ia querer ter 30.