terça-feira, 1 de julho de 2014

Pãe

Quando ele se separou foi uma vergonha pra família. 40 anos, pai de duas filhas, muçulmano, isso era inaceitável. A ex-mulher cansou da vida de casada e resolveu abandonar o barco. Começou com pequenos encontros com amigos que duravam madrugadas a dentro. Por fim já estava passando dias fora de casa. Casou-se jovem e com a desculpa de não ter aproveitado a vida saiu de casa em um dia qualquer sem olhar pra trás e sem pensar nas filhas. Na época, Natasha tinha 7 anos e Nathifa 1 ano e meio. A pequena ficou na janela vendo a mãe ir embora. Aos prantos.

Toda a rotina foi alterada. Ele que saia pra trabalhar as 6:30 da manhã, passou  a acordar 1 hora antes, deixava Nathifa na casa de um casal de amigos e Natasha ficava com a vizinha para ser levada a escola. Às 3 da tarde o caminho era inverso, buscava a mais velha e a filha da vizinha na escola e a pequena na casa do amigo. E isso se repetiu por um ano. Quando ele conseguiu se estabilizar financeiramente, (sim, porque a mãe abandonou a família e não deu mais 1 euro para as despesas da casa ou das crianças), contratou uma aupair que o auxiliava no cuidado das meninas. No total foram três, uma coreana e duas brasileiras.

As meninas têm características de filhos cuidados só pelo pai. Escolhem as próprias roupas, que as vezes nao combinam, comem muitas coisas saudáveis, mas também comem a hora que querem, e não fazem manha, porque pai não costuma dar muita corda. Gostam de músicas indianas, a mais velha estuda árabe para ler o alcorão, e a mais nova nunca lembra da mãe, mas ambas tem o pai como herói.

Ele não sai sem  as filhas, pensa o tempo todo nelas e deixa bem claro que é delas toda a sua atenção. Está de namorico com uma mulher do país dele, Bangladesh, e fala com ela todos os dias via Skype. Procura uma companheira, alguém que possa o ajudar com as meninas, e não alguém para cozinhar e limpar. Ainda tem muitas pendências com a ex-mulher, o divórcio, por exemplo, mas não deixa isso influenciar em nada na sua relação com as filhas.  Veste totalmente a camisa de pai solteiro e defende com unhas e dentes a cria. Após o nascimento das meninas nunca mais bebeu ou fumou.


Pode sim ser um caso isolado, mas de tão boa gente as vezes fico me imaginando o que leva a pessoa a deixar pra trás um marido tão dedicado e filhas tão lindas apenas para divertimento próprio?!Não é um julgamento, mas apenas uma constatação. Ela paga uma moeda cara por essa decisão. As vezes chora ao ligar pra ele e perguntar como estão as crianças, mas essa é uma frequência quase que mensal.  Ele por sua vez blinda as meninas de todo mal, e tenta passar para elas toda a bagagem de honestdade e respeito que carrega consigo há anos, muito antes de se tornar pai. Ou mãe! 

Autora: Thaís Ribeiro