Quando ele se separou foi uma vergonha pra família. 40
anos, pai de duas filhas, muçulmano, isso era inaceitável. A ex-mulher cansou
da vida de casada e resolveu abandonar o barco. Começou com pequenos encontros
com amigos que duravam madrugadas a dentro. Por fim já estava passando dias
fora de casa. Casou-se jovem e com a desculpa de não ter aproveitado a vida saiu
de casa em um dia qualquer sem olhar pra trás e sem pensar nas filhas. Na época,
Natasha tinha 7 anos e Nathifa 1 ano e meio. A pequena ficou na janela vendo a
mãe ir embora. Aos prantos.
Toda a rotina foi alterada. Ele que saia pra trabalhar
as 6:30 da manhã, passou a acordar 1
hora antes, deixava Nathifa na casa de um casal de amigos e Natasha ficava com
a vizinha para ser levada a escola. Às 3 da tarde o caminho era inverso, buscava
a mais velha e a filha da vizinha na escola e a pequena na casa do amigo. E isso
se repetiu por um ano. Quando ele conseguiu se estabilizar financeiramente, (sim,
porque a mãe abandonou a família e não deu mais 1 euro para as despesas da casa
ou das crianças), contratou uma aupair que
o auxiliava no cuidado das meninas. No total foram três, uma coreana e duas
brasileiras.
As meninas têm características de filhos cuidados só
pelo pai. Escolhem as próprias roupas, que as vezes nao combinam, comem muitas
coisas saudáveis, mas também comem a hora que querem, e não fazem manha, porque
pai não costuma dar muita corda. Gostam de músicas indianas, a mais velha
estuda árabe para ler o alcorão, e a mais nova nunca lembra da mãe, mas ambas
tem o pai como herói.
Ele não sai sem
as filhas, pensa o tempo todo nelas e deixa bem claro que é delas toda a
sua atenção. Está de namorico com uma mulher do país dele, Bangladesh, e fala
com ela todos os dias via Skype.
Procura uma companheira, alguém que possa o ajudar com as meninas, e não alguém
para cozinhar e limpar. Ainda tem muitas pendências com a ex-mulher, o
divórcio, por exemplo, mas não deixa isso influenciar em nada na sua relação
com as filhas. Veste totalmente a camisa
de pai solteiro e defende com unhas e dentes a cria. Após o nascimento das meninas
nunca mais bebeu ou fumou.
Pode sim ser um caso isolado, mas de tão boa gente as
vezes fico me imaginando o que leva a pessoa a deixar pra trás um marido tão
dedicado e filhas tão lindas apenas para divertimento próprio?!Não é um
julgamento, mas apenas uma constatação. Ela paga uma moeda cara por essa
decisão. As vezes chora ao ligar pra ele e perguntar como estão as crianças,
mas essa é uma frequência quase que mensal. Ele por sua vez blinda as meninas de todo mal,
e tenta passar para elas toda a bagagem de honestdade e respeito que carrega
consigo há anos, muito antes de se tornar pai. Ou mãe!
Autora: Thaís Ribeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário